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Ciência

Por que reduzir poluentes atmosféricos liberados por navios pode ter piorado o aquecimento global?

Troca de combustíveis em navios visava ajudar o meio ambiente, mas pode ter piorado o aquecimento do planeta. 2024 foi o ano mais quente já registrado.

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Aquecimento acima do esperado

A alta na temperatura em 2023 e 2024 foi muito maior do que a esperada pelos cientistas mais pessimistas e há um conjunto de fatores responsáveis por isso. O principal são as anomalias na duração e intensidade do El Niño, que provocou aquecimento anormal do Pacífico. Mas outro foi a alteração no combustível usado pelos navios que cruzam os oceanos.

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Dióxido de enxofre

Grande parte dos combustíveis fósseis, como gasolina e óleo diesel, contém enxofre na sua composição. Quando queimados nos motores, liberam o dióxido de enxofre, que pode ficar por até 20 dias na atmosfera, a não ser que a umidade o transforme em ácido sulfúrico - responsável pela acidificação da chuva, outro problema ambiental.

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Regulação

Por seus impactos, o teor de enxofre nos combustíveis usados por veículos terrestres e industriais passou a ser regulado há décadas. Já no setor de navios transatlânticos, a redução em 80% só se tornou obrigatória em 2020 e se concretizou em 2023 e 2024. Afinal, pensavam os reguladores, soltar fumaça em alto mar é menos grave do que soltar nas cidades.

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Nuvens de fumaça que refletem luz solar

Imagens de navios que emitiam enxofre e eram rastreados por satélites mostraram que eles deixavam rastros de nuvens poluentes que permaneciam na atmosfera por até 20 dias. Foi demonstrado, também, que essas nuvens refletem parte da luz solar que chega à atmosfera.

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Espelho que foi removido

Com a introdução a partir de 2023 dos combustíveis sem enxofre, essas nuvens que refletem a luz solar deixaram de existir e a luz que antes era refletida passou a incidir diretamente na água, aumentando a luz absorvida pelos oceanos e, portanto, seu aquecimento. É como se um espelho tivesse sido retirado da atmosfera.

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Efeito cadeia

Os cientistas calcularam quanto a mais de energia solar atingiu a Terra em 2023 e 2024 devido à remoção desse poluente. Chegaram à conclusão que isso equivale a 0,12 watt por metro quadrado. Essa energia chega ao oceano e é imediatamente convertida em calor, contribuindo para o aquecimento global de 2023 e de 2024.

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0,01ºC por década

Os cálculos indicam que essa quantidade de energia não é suficiente para explicar o aquecimento dos últimos anos. Mas também que essa substituição de combustíveis vai aumentar a temperatura em 0,01ºC por década.

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Complexidade do problema

Essa é uma descoberta interessante por dois motivos. Primeiro, uma medida que visa a combater a poluição protegendo nossos pulmões e a vida terrestre, aumenta o aquecimento global, o que por sua vez prejudica os seres vivos e o ambiente em que vivemos, mostrando como é complicada nossa interação com a atmosfera.

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Luz no fim do túnel

Em segundo lugar, esse é um experimento que demonstra diretamente que partículas presentes na atmosfera aumentam a luz refletida e diminuem o aquecimento. Essas modificações, injetando partículas refletoras na atmosfera, vêm sendo propostas como uma maneira de amenizar o aquecimento global.

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Reportagem

Fernando Reinach

Produção

Giovanna Castro