Esclareça as suas dúvidas :: Infinitivo
Como se trata de uma das questões mais polêmicas e controvertidas da língua portuguesa, é impossível formular normas inflexíveis para a distinção entre o infinitivo pessoal (flexionado) e o impessoal (não flexionado). As regras abaixo expressam, de forma geral, o consenso de boa parte dos gramáticos, tanto "tradicionais" quanto "modernos", a respeito do assunto.
Flexionado
1 - Regra básica
Flexiona-se o infinitivo quando o seu sujeito e o do verbo principal são diferentes: Acreditamos todos (nós) serem os candidatos (eles) muito bons. / Peço-lhes (eu) o favor de não chegarem (vocês) atrasados. / Convém saírem vocês primeiro. / O chefe julgava estarem seus empregados superados.
Se o sujeito for o mesmo, o infinitivo não será flexionado: Temos (nós) o prazer de lhe participar (nós) ... / Declararam (eles) estar (eles) prontos.
Exceção. Com os verbos deixar, fazer, mandar, ver, ouvir e sentir, o infinitivo fica no singular, mesmo que haja mais de um sujeito na frase: Deixai vir a mim as criancinhas. / Mandei-os começar o serviço. / Senti-os exalar o último suspiro. / Faça-as sair depressa. / Vi tantos homens perder o juízo. / Ouviu os mestres explicar a questão.
2 - Regra complementar.
Se você tiver dúvidas na aplicação da regra básica, apele para esta outra (no fundamental, as duas coincidem): o infinitivo é flexionado quando pode ser substituído por um tempo finito (indicativo ou subjuntivo, em geral): É preciso saírem logo (saírem = que saiam). / O coronel intimou-os a se renderem (a que se rendessem). / É tempo de partires (de que partas). / Não compete a vocês queixarem-se de nós (que se queixem). / Convém chegarmos ao fundo da questão (que cheguemos).
3 - Outros casos de infinitivo flexionado
a) Quando o sujeito é indeterminado: Vi executarem os criminosos. / Ouvi cantarem o hino de várias formas.
b) Quando o infinitivo é o sujeito: O quereres tudo me surpreende. / O morrerem pela pátria é sina de alguns soldados.
Não flexionado
1 - Infinitivo usado com verbos impessoais ou com outros, pessoais, mas empregados de forma impessoal: Viver é lutar. / É proibido proibir. / É possível haver dúvidas.
2 - Infinitivo com valor de imperativo: Meia-volta, volver! / Honrar pai e mãe.
3 - Infinitivo em locução verbal: As peças estavam estragadas, devendo ser (e nunca serem) substituídas. / Lamentando não poder atendê-lo, desejamos... / Costumavam os filhos reunir-se (e não reunirem-se).
Com preposição
1 - Não se flexiona o infinitivo com preposição que funcione como complemento de substantivo, adjetivo ou do próprio verbo principal: O pai convenceu os filhos a voltar cedo. / Continuamos dispostos a comprar a casa. / Remédios ruins de tomar. / As emissoras conquistaram o direito de transmitir todos os jogos de vôlei. / Eram exercícios fáceis de resolver.
2 - Não se flexiona o infinitivo com preposição que apareça depois de um verbo na voz passiva: Os jornalistas foram forçados a sair da sala. / As pessoas eram obrigadas a esperar em fila.
3 - Não se flexiona o infinitivo com preposição que tenha o valor de gerúndio: Os trabalhadores estavam a comer (= comendo). / Estavam a cantar (= cantando).
4 - Nos demais casos de preposição (ou locução prepositiva) mais infinitivo, é opcional flexionar ou não o infinitivo. Quando ela vier antes do verbo principal, é preferível usar a forma flexionada: Por serem milionários, tudo lhes parecia barato. / Para nos mantermos em forma, fazemos ginástica diariamente. Quando colocados depois, prefira a forma não flexionada: Viemos aqui para cumprimentar o ancião. / Aceitaram o trabalho sem hesitar.
Observações finais
1 - Use o bom senso e o ouvido: o ritmo da frase, a eufonia e a clareza em muitos casos se sobrepõem a qualquer regra, neste assunto.
2 - Em caso de dúvida, siga este conselho do gramático Napoleão Mendes de Almeida: "Devemos limitar a flexão do infinitivo aos casos de real necessidade de identificação do seu sujeito. Não verificada essa necessidade, deixemos intacto o infinitivo."